Alterações no Fundo Global do Amazon KDP Select

Se existe uma empresa que nos últimos anos tem revolucionado a indústria editorial esta empresa é a Amazon. Não satisfeita, a empresa está pronta para atacar novamente e voltar a derrubar muitos conceitos que tínhamos estabelecido sobre livros.

A partir de hoje (1º de julho de 2015), o pagamento do Fundo Global do Amazon KDP Select terá por base o número de páginas lidas pelos clientes do Kindle Unlimited (que dá acesso ilimitado a mais de 750.000 títulos por R$19,90 por mês) e da KOLL Owners Lending Library (disponível apenas nos EUA e que permite que os assinantes Amazon Prime emprestem um livro por mês sem data de vencimento).

Portanto, a partir de agora a Amazon vai dividir os royalties destes serviços entre os autores conforme o número de páginas que foram lidas.

A partir de hoje (1º de julho de 2015), o pagamento do Fundo Global do Amazon KDP Select terá por base o número de páginas lidas pelos clientes do Kindle Unlimited

Agora, os autores do KDP podem ver o Kindle Edition Normalized Page Count (KENPC V1.0) de cada um de seus livros do KDP Select na página “Promover e Anunciar” na Biblioteca.

Por ser baseado em configurações específicas deste programa e se destinar a normalizar a contagem de páginas de todos os livros do KDP Select, o KENPC pode ser diferente da contagem de páginas na página de detalhes dos ebooks da Amazon ou da contagem de páginas de livros impressos. Conforme contabilizado de acordo com o KENPC, durante o mês de junho, os clientes do Kindle Unlimited e da KOLL leram aproximadamente 1,9 bilhão de páginas do Kindle Edition Normalized Pages (KENPs).

Em meados de julho, a Amazon publicará os resultados do fundo para junho. A expectativa é de que o fundo alcance pelo menos US$ 11 milhões, tornando o mês de junho o maior em termos de pagamento mensal até o momento. Como anunciado anteriormente, o fundo do KDP Select de julho e agosto também será de pelo menos US$ 11 milhões.



Pagamentos de royalties no novo programa

Veja um exemplo de como seria se o montante do fundo fosse de R$11 milhões e 100.000.000 de páginas fossem lidas no mês:

[junkie-alert style=”white”] O autor de um livro com 100 páginas, que foi emprestado e lido completamente 90 vezes, ganharia R$990,00 (ou seja, R$11 milhões multiplicado por 9 mil páginas [100 x 90] deste autor dividido por um total de 100 milhões de páginas). [/junkie-alert]

Para determinar a contagem de páginas de um ebook de uma maneira que funcione em diferentes gêneros e dispositivos, a Amazon desenvolveu o KENPC. O KENPC é calculado com base em configurações padrão (por exemplo, fonte, altura da linha, espaçamento da linha, etc.) e será usado para calcular o número de páginas do um ebook que os clientes leram (do início da leitura) até o final. Normalmente, a Amazon define o início da leitura no capítulo 1 para que os leitores possam começar a leitura no conteúdo principal do livro assim que o abrem.

O impacto da decisão da Amazon

É difícil medir o impacto potencial desta nova decisão da Amazon.

Anteriormente, para muitos editores e autores, pouco importava se as pessoas liam os livros. O que importava era vendê-los. Esta nova forma de pagamento de royalties da Amazon, se for bem sucedida, mudará o jogo completamente.

Por um lado, pode incentivar um tipo de literatura leve, menos complexa e repleta de “ganchos” (recurso de roteiro utilizado em ficção e que se caracteriza pela exposição do personagem a uma situação limite ou o confronto com uma revelação surpreendente) que conduzem a novos livros em série.

Por outro lado, também pode levar muitos autores a estender excessiva e desnecessariamente seus ebooks apenas para render mais páginas para o leitor. Esta já é uma prática comum em certos bestsellers que veem na quantidade de páginas a maneira de legitimar a carência de conteúdo.

Os autores não poderão usar o famoso truque de compor em Arial 14 (“que ocupa mais espaço”) porque o KENPC foi implementado para prevenir abusos. Mas sempre há a possibilidade de acrescentar elementos, como imagens ou gráficos, para dar volume ao conteúdo.

De qualquer forma, a evidência é que a literatura de consumo está mudando. A Amazon não está apenas encarando o livro eletrônico como um substituto da versão impressa. A Amazon está buscando estabelecer um conceito completamente diferente para o termo “livro”, com os seus próprios gêneros e também com um sistema de pagamento para os autores radicalmente diferente daquele a que estamos acostumados.

Por fim, a decisão também evidencia uma série de mudanças na forma como as pessoas consomem literatura, além de levantar preocupações sobre a privacidade quanto ao fato de que uma grande empresa saber em que ponto estamos no decorrer da leitura de um ebook.



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