O que você diria se autores trapaceiros estivessem ganhando dinheiro publicando ebooks gratuitos na Amazon? Isso vem ocorrendo sim.
O Amazon Kindle Unlimited (a “Netflix para livros” da Amazon) pode ter criado uma oportunidade para que autores inescrupulosos obtenham ganhos reais sobre aqueles autores que produzem obras verdadeiras.
A questão é: alguns estão burlando o sistema e inflando as vendas ou páginas lidas através do uso de várias técnicas, dentre as quais:
- estabelecimento hiperlinks desnecessários ou confusos;
- um sumário mal colocado ou;
- a adição de conteúdo desnecessário, irrelevante.
A Amazon não confirmou nem negou que o seu sistema esteja sendo burlado.
“É importante para nós garantir que os nossos clientes possam confiar nos rankings de vendas e que esses rankings reflitam, com precisão, as atividades legítimas dos nossos consumidores”, afirmou um porta-voz da Amazon.
Como ludibriar o Kindle Unlimited
É fácil entender porque colocar um sumário na parte final de um ebook pode despertar a ira da Amazon e o fato da empresa ter instituído uma política contra essa prática.
O problema reside no funcionamento do serviço Kindle Unlimited, da Amazon, que dá acesso ilimitado a mais de um milhão de livros por R$19,99 por mês. Este é um bom negócio para ávidos leitores, alguns dos quais leem vários ebooks por semana. Além disso, vários autores que afirmam fazer parte do programa aumentaram a renda.
O Kindle Unlimited paga a partir de um fundo estabelecido pela Amazon a cada mês (R$39,1 milhões em setembro de 2016, no Brasil). Os ganhos são determinados pelo número de páginas que um leitor lê e não pelo número de leitores que baixam os ebooks. Autores com melhores desempenhos chegam a faturar US$16.000 em um mês (nos Estados Unidos).
Mas e se alguém encontrar uma maneira de enganar o sistema fazendo com que a Amazon acredite que “leitores” leram milhares de páginas, quando na realidade não leram nenhuma?
Esses autores inescrupulosos descobriram que a Amazon não sabe, de fato, que páginas foram lidas. A Amazon só sabe qual a última posição que um leitor alcançou em um ebook.
Em outras palavras: se um autor inescrupuloso publica um ebook cheio de bobagens (talvez uma mistura de milhares de páginas escolhidas aleatoriamente a partir de sites de domínio público), mas, em seguida, acrescenta um link (na parte inicial do ebook) que direciona o leitor do Kindle Unlimited para a última página, a Amazon vai registar como se o usuário tivesse lido o ebook. Resultado: pagará ao autor a quantia relativa a milhares de páginas de leitura que nunca aconteceram.
Em março deste ano, um blog alemão revelou vários métodos para aumentar o número de páginas lidas.
Por exemplo, escrever originalmente um livro de 100 páginas (por exemplo, em português). Em seguida, traduzi-lo em diferentes idiomas (digamos francês, alemão, espanhol e inglês). Publicar um ebook com todas esses idiomas em sequência:
Francês, alemão, espanhol, inglês e português.
O ebook teria umas 500, 560 páginas no total.
A seguir, logo na primeira página do livro, incentivar os leitores a clicarem no link para a primeira página correspondente à língua nativa de cada um. Se 95% dos seus leitores falam português, a primeira página começará depois das versões em francês, alemão, espanhol e inglês (digamos lá pela página 455). Então, assim que o leitor tenta clicado para a primeira página em português a Amazon vai considerar que ele tenha lido 450 páginas.
Esses autores inescrupulosos não seriam capazes de publicar ebooks deste tipo se a Amazon realmente estivesse rastreando as leituras. Se o dispositivo de leitura cronometrasse quanto tempo é necessário para concluir a leitura de uma página, quantas vezes o leitor procura por palavras, volta, avança e clica em links, a Amazon saberia que o leitor não teria lido 450 páginas, 700 página etc.
Os golpes funcionam porque a Amazon parece saber apenas em qual página um leitor abriu o ebook ou em qual página o fechou.
Que providências a Amazon está adotando
A Amazon não confirmou a farsa, mas disse que considera qualquer atividade anormal.
A verdade é que o golpe não custa dinheiro à Amazon, pois é a empresa que decide quanto será pago, a cada mês, pelo programa Kindle Unlimited.
Fazer o download de ebooks de autores trapaceiros através do Kindle Unlimited pode, de alguma forma, irritar os leitores assinantes, mas não lhes custa nada. Enquanto os assinantes mantiverem suas assinaturas, a Amazon continuará a ganhar dinheiro e o golpe não afetará em nada os lucros da empresa.
A longo prazo, porém, se muitos bons autores de conteúdo relevante pararem de publicar bons livros e muitos leitores passarem a considerar o sistema corrompido, isso pode mudar.
E a Amazon tem feito algumas mudanças nas suas políticas. Primeiro, a exigência de colocar o sumário na frente do ebooks, nas primeiras páginas.
Em segundo lugar, a Amazon tem limitado o pagamento dos royalties do Kindle Unlimited a 3.000 páginas, o que sugere que a empresa está ciente de que existem ebooks com contagens de páginas infladas e falsas.
Até o momento, considero difícil imaginar como a Amazon pode lidar realisticamente com o problema e manter os golpistas fora do Kindle Unlimited.
Não há nenhuma boa maneira de marcar ou sinalizar os ebooks suspeitos, pois há um grave problema de atendimento ao cliente no KDP. Esse péssimo atendimento é notório. Isto tem sido um problema há anos.
[junkie-alert style=”yellow”] Para exemplo de mau atendimento relacionado a denúncia de plágio visite:
https://kdp.amazon.com/community/thread.jspa?threadID=315073&tstart=0
[/junkie-alert]
Talvez a Amazon possa estar usando robôs para identificar os golpistas, mas não tenho certeza.
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Cara, eu como escritor iniciante, sempre desconfio de tudo um pouco. Tanto para fins criativos, ou seja, para se criar uma história quanto por realmente desconfiar do ser humano. Não que seja lógico que surgiriam maus autores praticando crimes, justamente porque é muito difícil de se imaginar que existem pessoas que se dedicam à cultura e ao entretenimento sem ter que apelar para esse tipo de coisa, mas enfim, é sempre bom saber que tudo é falho e que, para a esperança das pessoas, pode haver contornos, ou seja, justiça. Para mim, como escritor amador, não acarreta em nada, mesmo porque sou consciente em entregar meus livros da melhor forma, mesmo fazendo tudo sozinho. Minhas preocupações no momento são de revisar os livros que publico na Amazon. Esses “autores” canalhas que usam de artifício são criminosos e precisam ser combatidos, tanto para não manchar a imagem da Amazon e para que não se espalhem, afugentando leitores. Obrigado por esta postagem, que mostra que todo o cuidado é pouco, ainda mais para quem quer viver da escrita e quem tem prazer pela leitura.